terça-feira, 7 de novembro de 2017

Mini Me!

Aos dois anos a minha filha disse-me com o  seu já palavreado muito acentuado que não queria que eu lhe vestisse umas calças. E eu podia ter dito: “não fofinha, tu fazes aquilo que eu quero”, mas não o fiz. A partir desse dia nunca mais lhe vesti o que eu queria, mudei o varão do armário para que lhe ficasse mais à mão e as gavetas estão arrumadas de acordo para que ela possa escolher o que ela quiser levar.
Às vezes, corre muito mal, bolas, riscas e desenhos, tudo misturado, mas são mais as vezes que corre bem de que o contrário. Isto deu-lhe a autonomia necessária para que hoje, com  9 anos, quando lhe mando vestir, não tenho que me preocupar, porque sei que normalmente será uma escolha acertada.
Dor de cabeça é ir com ela às compras, nada lhe agrada, desde o mais caro ao mais barato, sapatos e ou sapatilhas, o pesadelo é o mesmo. Pode entender o comum mortal que a miúda é caprichosa, por acaso é muito, mas eu deixo-a escolher, porque inconscientemente ou até mesmo consciente, quero que saiba que é ela que sabe. E como muitas vezes lhe digo, que nunca deixe que ninguém lhe diga o que pode ou não fazer só porque a outra pessoa acha que ela é que está certa.
Pago a fatura bem cara, porque todos os dias é um desafio constante do: “eu quero” , “mas tu disseste”, “credo, não vou usar isso”, “não me apetece”. É uma criança indomável, cansativa, um ser imaturo, mas ao mesmo tempo adorável e a culpa é minha… Tanta belinha que me apetece dar-lhe, tanta...
O que quero dizer com isto é, que cresça com a auto-estima com que sai hoje de casa, com a cara pintada e com sombras nos olhos que eu nunca sonharia em mim. Que não se deixe influenciar por um ou outro amigo/a, que não seja submissa com o namorado ou namorada, que saia como lhe apeteça e não como os outros esperam.
Tem a coroa invisível, não quer saber se gostam ou não de como está vestida ou como está pintada. É uma força da Natureza.
Compreende que as pessoas não são todas iguais, que  homens podem gostar de homens e que mulheres podem gostar de mulheres, este é o ponto de partida, também para aceitar outras coisas mais complexas. Sabe reconhecer a amiga que a defendeu, mantendo-se estoicamente ao seu lado mesmo que socialmente a prejudique. Sabe que se um dia chegar a casa e contar-me que não ajudou um amigo/a no recreio que vou ficar triste com ela, assim como sabe que eu sairia de casa pronta a dar cacetadas a quem lhe fez mal.
Ensinei-a a andar de bicicleta, a andar de patins, pu-la na natação e sempre que me diz que quer experimentar desportivamente algo novo, se eu puder e se estiver ao meu alcance fa-lo-ei. Ensinei-a que ser menina não invalida que não faça a mesma coisa que os meninos.
Se quisesse podia ser jogadora da bola, facto muito improvável, porque é um horror em tudo o que se relaciona com futebol e ténis. Desconfio que não tem mesmo jeito para atividades desportivas com bolas, não é mesmo a onda dela. Tanto brinca com meninos como com meninas. Nunca da minha boca ouviu “as meninas não fazem isso” e por isso fica sempre surpreendida quando ouve alguém dizer isto.
É uma educação completamente diferente da minha, primeiro, porque não ousaria dizer não à minha mãe, levaria uma berlaitada (só de lembrar ainda sinto a mãozinha na minha cara), segundo, a minha mãe não tinha as ferramentas que eu agora tenho, e terceiro, não tinha a disposição mental e física para estar comigo, trabalhava muito para me sustentar.

Tenho o desejo quase sufocante que a minha filha, nunca seja abusada, que nunca  seja abusadora, que não seja submissa e que nunca perca a sua personalidade desafiadora. Que seja sim, mais moderada que a mãe, menos intempestiva e menos “conflituosa”, que seja sempre livre, feliz e que saiba que pode contar sempre com a mãe!



"And even when it all becomes too much
When you're growing old and feeling out of touch
Listen to this song and just take care
And know that I will be there, yeah, I will be there
No, I swear that I will, yeah, I promise I will"








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