quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A minha mãe e o Tito Paris

No fim de semana passado, levei a minha mãe a ver o seu querido amigo Tito Paris. O concerto foi no Coliseu dos Recreios. Eu já lá tinha estado, noutros concertos, na plateia, de pé, mas desta vez , fiquei no balcão, mesmo em frente ao palco (quem quiser a referência para outros eventos, a porta 5 é a melhor). A minha mãe ia na esperança de também encontrar as suas amigas para cochichar e rir-se, porque independentemente dos seus 64 anos, quando está com a sua geração, parece uma adolescente, riem-se e boquinhas umas para as outras meio discretas, meio à descarada. Qual foi o seu espanto quando chegámos ao Coliseu ao constatar que a minoria eram os pretos, o coliseu esgotado, na sua grande maioria de brancos. O ar de pasmo dela fez-me rir, porque estava genuinamente surpreendida. Não tinha ainda percebido que o seu amigo é de todos e não só dos cabo verdianos.
Eu cresci a ouvir Tito, cresci a ouvir os suspiros da minha mãe quando lhe dava saudades da Terra ao ouvir Tito Paris, o seu famoso CD MAR AZUL, e como são amigos, cruzei-me com este grande Senhor da música algumas vezes, sempre muito simples, simpático, humilde e com um sorriso na cara. Quando somos pequenos não damos valor à música dos nossos pais. É como emigrar e de repente temos saudades no nosso Fado quando na realidade nem ouvias Amália.
Tito Paris é uma pessoa afável, fazendo questão de salientar que,  além de orgulhosamente ser de Cabo Verde, também é um Lisboeta de coração, vai interagindo com a sala, sempre levando o público a “estar” com ele, mencionando e contando “estórias” dos seus amigos músicos de toda a Lusofonia. Apresenta mais uma vez, o seu filho de 12 anos, magnífico violinista, que ainda deu uma perninha na bateria, qual génio musical qual quê.
Falava com o público como se estivesse na sua casa, na sala a cantar como se faz em Cabo Verde, sempre que chega alguém é uma festa, só faltou mesmo a cachupa. Além  da sua banda, tem a orquestra para dar aquele toque de saxofone e violino na música de Morabeza.
Emocionou a plateia, aquando da homenagem a Bana:  um vídeo com uma gravação do Bana já doente no Hospital a cantar com Tito, quase me vieram as lágrimas aos olhos e não é de todo a minha onda, mas estando a viúva na plateia, aquilo foi um momento único.

Com o passar dos anos vou apreciando cada vez mais os momentos com a minha mãe. Olho para ela e volto a ter nove anos, quando era muito apaixonada por aqueles cabelos vermelhos e pela cara cheia de sardas. Volto a reencontrar esse amor nos cabelos brancos que só agora aparecem, na sua jovialidade e força de vontade quando faz 10 km, é um exemplo. E é a minha Mãe!



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