terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Trail não é para pussys!

Se há 4 anos me dissessem que aos 40 estaria a fazer trails, eu não acreditaria. 
Quando nessa altura recomecei a correr, em Outubro de 2013, o simples trajeto Cais Sodre-Santos-Cais Sodre, 6 km, era um suplicio, uma eternidade, um horror. 
Continuei vezes sem conta, extendendo as distâncias, increvendo-me nas provas de 5 e 10km. Para treinar para a meia maratona, fiz o meu primeiro trail, nao imaginava sequer o que era esta cena do trail. Desde a primeira corrida ao primeiro trail foram 4 meses de treino e consegui superar os 15km na Arrábida.
Foi sem duvida uma experiência que só quem lá está, sabe; Deu-me a estaleca que precisava para a meia maratona. 
Depois desses 15km na Arrabida, que sobrevivi não sei como, já fiz uns quantos; três meias maratonas, inumeros 10 e 5km, mais treinos, muitos treinos! 
Posso assim dizer que as minhas pernas têm já, alguns kilometros valentes.
Este fim de semana voltei àquele primeiro trail, mas desta vez eram 18km...o regresso ao meu ponto de partida.
Depois de tantos km nas pernas, podem vocês pensar que, há e tal, faz aquilo com uma perna ás costas. Gostava eu, mas não; custa-me sempre horrores. Então porque o fazes?
Eu explico:
As pessoas, as ditas trailers, têm um espírito livre, são altruístas e têm muita força mental. Dão-nos a mão, nas inúmeras subidas, sorriem para que não desmoralizemos e ninguém julga ninguém por ir com mais dificuldades, mais devagar ou mais depressa, o que interessa é que cheguemos ao fim sem grandes mazelas. Dão tudo! Não vemos este companheirismo nas corridas de estrada. No Trails vemos grandes exemplos de vida, uma senhora com 60s e tais a dizer que tem 3 costelas partidas e que lhe vai doer nas descidas, mas vai á minha frente na descontra, vemos pessoas com bastante peso nas ancas a irem,com muito esforço; grupos bem dispostos que se comprometeram com os novatos e ninguém fica para trás. São verdadeiros exemplos!
Este é o Espírito!
Durante estes longos percursos é inevitável passar por várias fases mentais, as Ondinas saem todas da toca, desde a mais choninhas á mais corajosa, desde a mais mal disposta a mais espirituosa. Como ouvi um senhor neste trail a dizer (aos 3 kms), os desarranjos emocionais são vários (adorei esta expressão).
Quando estou ali no mato, sou eu, e os meus eus. Eu e os meus fantasminhas. 
As pernas falham-me nas inúmeras subidas, doi-me tudo , mas não quero dizer nada, nem a mim mesma quero admitir que estou no inferno, quem sou para me queixar... Normalmente é nas subidas que tenho os tais desarranjos emocionais, as birras mentais; não consigo falar, ora porque a perna esquerda me lembra que a idade já não é a mesma, as costas lembram-me que não faço treino de força suficiente, ora porque a falta de ar lembra-me o quanto sou pequenina nestas andanças...Quando vejo os special one a passarem por mim a trote ou aos saltos num ritmo alucinante, sinto sempre aquela vontade de ir com eles, mas não consigo, não tenho aquilo que eles têm..a leveza o treino e a exponencial loucura, só tenho vontade de chegar ao fim. Desistir nunca(!), isso era a minha "morte" e que exemplo ia eu dar á milha filha, “Ah e tal estava cansada e desisti”....No way!
Então continuo, a resmungar e a praguejar; ui tantas asneiras que me saem pela boca..Nos últimos Kms já tudo me doi, tuuuudo, é a canela, depois os gémeos, depois passa para aquele músculo logo depois das virilhas e penso ok Ondina aguenta, faltam 3 km não vais morrer na praia, tu vais conseguir, tu és grande. Frases de automotivação são ditas repetidamente e vou olhando de soslaio para a minha companheira, para ver se está bem, e sorrio para que ela perceba que está tudo bem. E a 200 metros sinto a coxa direira literalmente a fazer o shut down, grita comigo e pára, entro em pânico, começo andar e penso são só 200 metros, vai a cochear, mas vai. Ao passar a meta é um misto de alivio, alegria e Paz, está feito, venha outra. Só preciso de uns minutos para "arrumar as Ondinas todas".
É de doidos, podem vocês pensar, mas eu não vou a uma prova destas para desistir, vou para dar tudo de mim... para eu perceber que eu consigo, para eu saber todos os dias que podem vir as dificuldades que vieram que eu vou conseguir. Seja a correr, a andar ou a coxear. È uma aprendizagem constante de mim mesma que todos os dias é utilizada. É o meu lembrete que por mais que me sinta em baixo ou por mais que me deitem abaixo eu consigo superar, porque eu sou forte eu sei que sou. A mente fica forte eu fico forte, inquebrável e cada vez mais indomável.

À segunda-feira, quando me sento cheia de dores na minha secretária venha quem vier, vou estar calma, porque o pior já passou...




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