Um jantar de Natal pressupõe-se que
seja antes do Natal, mas como a data nunca é consensual por causa dos feriados e bla bla bla, o meu
jantar de Natal foi em Janeiro, no dia de Reis, uau!
Os jantares de Natal são sempre um
mix de emoções, não sabes se positivas ou negativas. Parece que naquele
momento, naquelas poucas horas, todas as diferenças laborais são ultrapassadas
e todos nos damos bem, um paraíso laboral, uma utopia.
Primeiro aquela questão eterna do
"eh pah, não me apetece ir, mas lá terá de ser”. Eu sou daquelas que diz
prontamente que SIM e começa logo a pensar no vestido, qual dondoca qual quê…
"Ah e tal, leva qualquer coisa, é só um jantar", para mim não é só um
jantar, se já com as amigas faço questão de me arranjar, quanto mais um evento
desta envergadura… Isto acontece na maior parte das vezes. Desta vez não
escolhi o vestido a tempo, comprei um que vou ter que trocar. E
consequentemente no próprio dia, fui à Zara e lá desencantei um vestidinho
preto que nunca compromete… Digamos que foi stressante, mas “já passou, já
passou”.
Os jantares dividem-se em duas
partes: pré-jantar e pós-jantar.
Pré-jantar: chega-se relativamente
cedo, para que cinco ou dez minutos depois as entradas sejam servidas… Num canto
da sala começa a juntar-se a malta, “o gang”, que já tem uma certa afinidade,
cumprimentam-se com beijinhos e
piadinhas, parece que não se vêm diariamente, e até parece que gostam todos uns
dos outros e que a maior parte das vezes não lhes passam pensamentos homicidas
pelas suas cabeças… Os homens têm claramente na testa escrito "porque raio
estas mulheres não se arranjam assim todos os dias", porque no dia a dia
estamos na série o “Sexo e a Cidade”, not! Do outro lado da sala estão os
politicamente correctos a falar aos senhores directores, com aquele jeito de
“eu queria era estar ali na galhofa, mas este é o meu momento para me
destacar”, ou seja, os lambe botas, porque "ele até sabe o meu
nome"... Num outro canto está um Patrão com aquele ar de “lá vou eu ter
que fazer mais um discurso e fingir que até gosto destas coisas quando eu
queria era estar em casa a ver as últimas novidades informáticas…” A malta da
galhofa continua na galhofa, olhando de soslaio uns para os outros e para a
sala, as mulheres tiram as medidas umas às outras, mas territoriais nada dizem.
Num curto espaço de tempo começam a posicionar-se estrategicamente para se
sentar nas mesas… Está tudo à espera de um sinal para se sentarem… Quando
sentados, repara-se que há sempre alguém que não ficou com quem queria, pessoas
que fogem dos seus chefes e colegas como o diabo a fugir da cruz e os “safety
people”, que se sentam sempre com os mesmíssimos colegas com que almoçam todo o
santo dia, pessoas que se esquecem que estão num jantar de empresa e que
começam a beber álcool como se não houvesse amanhã, pessoas que estão sempre a
reclamar da comida e pessoas que se
atiram às sobremesas... Entre a sopinha e o prato principal, levamos com um
discurso consideravelmente longo, em que
as pessoas que já têm algum tempo de casa quase que o sabem de cor e salteado.
Ainda estou para ver o dia em que o discurso será um “obrigado a todos pela
vossa presença e amanhã terão um cheque chorudo na vossa conta, agora comam e
bebam, boa noite”.
Pós-jantar: no fim da refeição já
está tudo alegre começando a sessão fotográfica e já perdendo a um bocadinho
compostura, soltando uma gargalhada mais sonora, um olhar mais lascivo, um
ritual de acasalamento… Enfim, a partir daqui é o chamado descambanço. Eu tenho
uma regra que tento cumprir minuciosamente, nunca bebas em festas de empresa.
Faz o que quiseres, como quiseres, onde quiseres, fora da Empresa, nos jantares
de Natal é como se estivesses também a trabalhar.
A música foleirinha começa a
ouvir-se, e timidamente começa-se a formar círculos na pista de dança,
incluindo os directores. Tenho para mim que têm comunicadores entre eles a
receber ordens do Patrão: “vá, agora misturem-se com os vossos subordinados e
talvez recebam um extrazinho”. Há sempre um “Fred”, o terror da meninas de
salto alto, que o homem rodopia e rodopia até sentirmos o bolo alimentar na
boca. Um bocado creepy quando te apercebes que o director do RH está fixamente
a olhar para as pessoas de copo na mão. Também há aquele grupinho que está na
festa, mas do lado de fora da festa, fumam, bebem conversam, riem-se, mas
sempre lá fora, os outsiders, portanto.
Enquanto que lá dentro algumas
novatas já perderam o tino e bebem e bebem, é só vê-las ir ao bar e riem-se e
riem-se. O meu pensamento vai sempre na direção “miga não! Estás numa festa da
empresa, não numa discoteca com os teus amigos, ok!?”, mas se as coleguitas não
o estão a dizer, quem sou eu, do alto do meu pedestal que lhes vai avisar, a
cota? Nepes. Be U, dança as suas musiquinhas de eleição, “Follow the Leader” e
ceninhas, até que decide que está na hora da recolha, porque daí a umas horas
terá um trail que pensava ser de 18 km, mas que acabou por ser de 24 km… Quando
me recuperar mentalmente falarei sobre isto.
Para mal da veia cusquinha de Be U,
é a altas horas da noite, que as coisas acontecem e ela não estava lá… Quer
dizer, relataram, mas eu prefiro ver com os meus olhinhos, mas sei e pelo que
me contaram, o fim deste tipo de festas é sempre o mesmo, alguém que bebe
demais até perder o tino e toda a gente comentar e lá se foi a “imagem”.
No dia útil depois da festa, depois
de vários whats ups e ver os colegas nos seus lugares com sorrisos meio
tímidos, a rezarem para com os seus botões para que ninguém comente o que se
passou.
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