O dia da Mulher é hoje, não vou
dissertar sobre a importância desse dia, relembro apenas que a ideia de criar o Dia da Mulher surgiu no final
do século
XIX e início do século XX nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de
vida e trabalho, e pelo direito
de voto.
É graças à coragem de muitas
mulheres daquela altura que hoje, posso escrever livremente e tenho um trabalho
numa sociedade que infelizmente ainda é tendenciosamente masculina. Situação
que está a mudar muito, mas muito lentamente.
Para vos situar, não querendo entrar
em muitos detalhes, aqui a Queen trabalha num mundo de transportes
muito vasto. E ao contrário do que possam pensar é um mundo maioritariamente
masculino. Ocasionalmente lá tenho uns meetings comercias e que para
variar o sexo feminino é muito reduzido, quando digo reduzido, quero dizer que
numa reunião de comerciais de cinco pessoas uma é mulher, normalmente sou eu.
Há sempre aquela questão de primeiro sou mulher, segundo sou preta (facto que antes causava sensação, mas que agora com o hábito é engraçado de gerir) terceiro sou bastante feminina ou gosto de imaginar que sou. Esta semana tive que me deslocar a Barcelona para um meeting anual no qual várias agências da Europa e do Norte de África se junta para uma espécie de conclave, um dia trancados com apresentações exaustivas com problemas e soluções.
Há sempre aquela questão de primeiro sou mulher, segundo sou preta (facto que antes causava sensação, mas que agora com o hábito é engraçado de gerir) terceiro sou bastante feminina ou gosto de imaginar que sou. Esta semana tive que me deslocar a Barcelona para um meeting anual no qual várias agências da Europa e do Norte de África se junta para uma espécie de conclave, um dia trancados com apresentações exaustivas com problemas e soluções.
A Viagem:
Apanharia o avião à tarde para que
na própria noite ter um jantar com um grupo de pessoas que no fundo são mesmos colegas,
mas não tento. Ora aqui a "je" sempre muito preocupada com a sua indumentária
pergunta às suas queridissimas colegas opinião sobre o que levar na
viagem, prevendo que chegaria em cima do jantar e que não teria tempo de ir ao
hotel refrescar-se e mudar de roupa. Opinião geral é que deveria ir de fato, ou
de calças de fato. Discordei prontamente, aliás nem sei porque pergunto, uma
vez que já sei lá no fundo o que quero. Discordei porque não gosta assim tanto
de calças e para reuniões ou jantares não acho apropriado. Passo a explicar, se
há alguns anos, na casa dos 20, eu achava que para ser respeitada
profissionalmente tinha que usar fato, calça e casaco,
achava profissional e sensual, agora acho que não o devo fazer.
Opinião minha claro, o mundo é livre de pensar o que quiser. Eu acho
muito sexy o fato, mas um tanto ou quanto agressivo, acho mais interessante
e apelativo usar um vestido sóbrio, e quando digo sóbrio não é tipo
freira, ok?! É um vestido que me define, não sendo demasiado decotado nem demasiado
curto. É usares um salto alto se conseguires e se quiseres, usares uma
maquilhagem, as minhas olheiras acentuados assim o exigem. Este visual que
escolho é a minha assinatura, a minha marca. Não preciso de calças para ser
respeitada, preciso sim de saber o que estou a dizer, de ser determinada e
assertiva no que digo. E ter um tremendo bom gosto e de sobriedade de um
"ar clean", é o que eu gosto. E tenho a certeza de quando me
apresento sei que faz toda a diferença e falando meio a sério meio a brincar,
não tenho que aniquilar a minha feminilidade só porque estou num mundo de
machos, não quero. Mais um bocadinho e também sou um deles. Eu não sou um deles,
eu sou mulher e gosto de o ser. Feminismos à parte, com o passar dos anos acho
isso irrelevante para os homens. No fundo todos nós gostamos que as pessoas
estejam apresentáveis, lavadinhas e cheirosinhas.
Claro que optei por um vestido prático
para a viagem, mas que desse, em caso de necessidade, usar no jantar. O que
acabou por acontecer, o voo atrasou-se e cheguei em cima do jantar. No avião
saquei do estojo da maquilhagem e ali mesmo, qual habilidade qual que, tapei as
ditas olheiras, uma coisita simples e lá fui eu para o jantar. Um
jantar normal numa pizzaria normal. Porque pizzaria? Bem, porque
o Manager deste evento é italiano, siciliano e gosta que as pessoas
conheçam as iguarias da sua terra. Já comi melhores, mas pronto façamos o favor,pensamento
estamos em Barcelona, Espanha, por amor de Be U, tanta
coisa para comer.... Enfim não sejamos mal educadas. A morrer de
sono, porque é uma segunda-feira e já são meia-noite, tenho de me levantar cedo
para o conclave, conto os minutos para a minha almofada. Acho que estamos todos
a pensar no mesmo, porque no fim é debandada, cada um para o seu o hotel. Mais
uma vez penso "ainda bem que não há cá confraternizações no
mesmo hotel e coisas", já somos pessoas entre os 30’s, 40’s e 50’s.
Depois de umas horas de sono, começa
o ritual do tomar banho, vestir outro vestido, este já mais "fino,
elegante, sexy, mas não muito"
e a "tapagem" das olheiras.
Lá vamos nós, aqui vamos para a
segunda parte do texto.
O conclave:
Às nove da manhã em ponto lá estamos
todos à porta da "oficina" do qual uns tiveram que recorrer de
um táxi e outros como eu de um GPS a pé… Óbvio que saltos altos são
mentira, mas o vestido e o ar clean lá estão.
Entramos para a sala e constato o
que constato sempre, em 30
‘business person’ apenas cinco são mulheres, cinco… E apenas eu estou
de vestido ‘who cares’.
O Top Manager começa o seu discurso todo
pimpão a agradecer a todos pela deslocação, salientado que estamos ali para
trocar ideias e apresentar serviços novos e blá blá… Começo a
divagar. O Homem é um verdadeiro Italian, na casa dos 50, mas este é
daqueles que nunca diz a idade, Uma Prima Dona, muito alto, com o sua gola alta
e blaser, todo chique, cara limpa e luzidia, penso que tem um
pouquinho de base, mas não tenho provas... Não se enganem, este homem
por detrás daquela aparência extremamente cuidada é uma pessoa
inteligente, o que se notou a cada apresentação, cada intervenção sua era
acutilante, perpicaz e directa.
Às 09:30 em ponto começam as
apresentações, 30 minutos depois eu já estava com aquele ar de tirem-me daqui pah…
Nestes 30 minutos, duas apresentações, uau, a este ritmo estamos
despachados cedinho… Nop… Começo aperceber-me que há apresentações cócos e
ligeiramente começo a suar ao pensar “que bosta de slides tens tu”, para depois
me aperceber que também há apresentações muito cocós e penso “a tua está
um espectáculo, go for it!”.
Pessoas fofinhas do meu
coração, Power Points com fundo branco não resulta., Power Points
com quadros em excel de tamanho mínimos não resultam, e Power Points com
textos infindáveis que parecem páginas de livros também não resultam… Really?
Enquanto luto desesperadamente para
não abrir a boca, vou reparando obviamente em detalhes dos meus colegas muitos
deles Managers, que eu não sou, e penso “estes ‘gajos’ gastam mais
dinheiro em sapatos do que eu em vestidos…”, é um facto.Os colegas italianos e
os tunisinos impecavelmente com os seus fatinhos e sapatos de top de
gama, e aqui penso que não sou muito normal a reparar nestas coisas. Penso, “um fatinho desses
e quando te levantas nem sequer apertas um botão do casaco”, regra básica meus
amigos, a esmagadora maioria dos senhores esqueceu-se deste facto importante,
mas não o Top Manager, esse não se esquece dessas coisas. Apresentações de
costas para a plateia, apresentações muito baixinho e apresentações que estavam
a dar tudo. Houve um que parecia ter uma batata quente na boca, outro que
despejaram a apresentação como uma correria tal que não percebi nada, cada um
com o seu sotaque, ora francês, tunisino ou espanhol… O inglês é realmente uma
benção. Claro que temos um comandante que sabe tudo de tudo e do negócio todo,
quando abre a boca para fazer uma pergunta sobre um ou outro assunto qualquer,
é incontestavelmente direto e se percebe que estás a engonhar dá
uma estoicada forte e arruma logo com a apresentação, coitado, mas
não se diz “I dont know” diz-se “I will check and revert
to you by e-mail with the information”.
Às 1230 e a apresentação nem vê-la,
eu estou com fome e só penso, “porra nunca mais vou sair daqui”. Às 13:30 lá
aparece o almoço, italiano outra vez, desta vez iguarias típicas que não pizza,
tipo almôndegas cheias de tomate e eu só penso “caramba, lá se vai a minha
alimentação saudável”.Conversinhas para aqui, conversinhas para ali,
risadas,e blá blá blá. E pronto, apresentações oura vez, somos os
primeiros, o meu chefe começa a falar e
rezo para que não dê uma “calinada”. Olho para o comandante e penso “a mim não
me apanha, eu tenho na minha cabeça as respostas todas seu tonhó”,mas não
fez perguntas. Quem me conhece sabe que ao contrário da escrita, oralmente sou
bastante trapalhona e nervosa, o chamado pavor de discursar para plateias.Adoro
conversar informalmente e ali nas conversas entre cafés é que mostro o que sei,
já passou já passou...
Um dia trancada numa espécie
de bunker para depois apanhar o avião de volta para a minha Lisboa...
Adoro ser mulher, adoro o meu
trabalho, se às vezes sou "posta para trás" por ser mulher, sou, se
tenho frustrações por às vezes não conseguir determinado patamar, isso todos
temos, não vou fazer disso um melodrama, vou encaixar de cabeça erguida e vou
tentar sempre fazer o meu melhor, resmungando, vociferando, desbravando caminhos,
dia após dia.
Vou lutar sempre para que acima de
tudo seja respeitada como ser humano, uma mulher trabalhadora com classe, com a
esperança infinita de que a minha filha tenha o caminho mais facilitado quando
chegar a vez dela.
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