quinta-feira, 22 de março de 2018

O meu Pai!

Vou voltar um pouco atrás no tempo, o tempo em que tinha mais ou menos a idade da minha filha, nove anos, na escola primária e que sempre se fez as prendinhas para o dia do pai. Eu tinha uma professora muito fofinha, daquelas que já não se fazem, ensinava tudo o que tinha a ensinar, era justa e castigava somente quando passávamos da linha. Ao contrário do professor ao lado que era mau, tinha todos os dias para alguém as ditas orelhas de burro, assim como as imensas reguadas que tinha prazer em aplicar, regularmente.
A minha professora atribuía um objecto qualquer para oferecermos aos nossos queridos pais, e embora nunca o transparecesse eu tinha dois problemas: a falta de jeito para o desenho e o problema maior, o de um pai ausente. Nunca tive o meu pai nestes dias especiais e naquela altura,  pensava somente para comigo  “quem me dera que o meu pai estivesse aqui”, mas era obrigada a fazer aquilo, todo o santo ano. Podia eu superar esse dia com outros dias em que o meu pai estivesse presente, mas não, o meu pai nunca estava presente. Por duas razões, uma por ser emigrante, trabalhando em navios onde ficava períodos de quatro meses na Holanda, outra porque quando cá estava, tinha uma família com dois meninos mais novos que eu, do seu casamento. Por estas razões, eu nunca fui bem vinda naquela casa, nunca tive um quarto só meu, as férias eram uma penúria, uma vez que a simpática da mulher do meu pai, tinha sempre um ou mais defeitos a apontar. Eram férias que uma menina que frequentava a primária passava a lavar a loiça e arrumar a cozinha, era o que chamamos de madrasta, no verdadeiro sentido da palavra… Se tenho boas recordações desses tempos? Só a esperança muito secreta que o meu pai se insurgisse contra aquela injustiça. Nunca aconteceu. Os anos foram passando, eu fui crescendo e um dia em plena adolescência, deixei de querer ir. Gerou-se uma grande polémica onde o meu pai culpou a minha mãe de só querer o dinheiro dele. Disse-me isto ao telefone ao qual desliguei e nunca mais quis saber dele. E se estivesse tão preocupado em ser meu pai nunca teria deixado de estar presente, mas ficou, sabemos lá, ressentido.
Tudo o que vivemos na infância marca-nos, deixa pegadas, deixa cicatrizes, que depois se revelam nas nossas ações futuras. Fiz a promessa que se um dia tivesse um filho ou filha que ela nunca iria passar por aquilo. Casei-me por teimosia, a pensar nesta promessa, na esperança de um lar cor de rosa para a minha cria. E mantive o casamento durante algum tempo devido aos meus traumas de infância, não queria de todo que a minha filha passasse o mesmo que eu tinha. Um dia olhei para ela e a única coisa que me ocorreu foi o quanto queria que ela fosse feliz. E saí para nunca mais voltar àquele casamento. Foi o melhor que fiz, porque o meu ex-marido depois disto acontecer, aos 3 anos de idade da nossa filha, consciente ou não, tornou-se um melhor pai. Um pai presente, um pai preocupado em faze-lhe feliz, um pai que faz de tudo o que está ao seu alcance para que no dia do pai esteja presente. E isso é a melhor coisa que ele faz por nós as duas. Ele fá-lo por ela, mas não sabe o quanto eu agradeço.
Houve um ano em que não pode estar presente e ligaram-me do jardim de infância a informar que ia haver uma festa do dia do pai e que era melhor eu ir buscar a minha filha, uma vez que alguns meninos também estavam na mesma situação. Partiram-me o coração pela acção. Quando a fui buscar ela não compreendeu porque não podia ficar a comer bolo com os outros meninos e meninas, só porque o pai não estava. Doeu muito, naquele momento tomei a decisão de assim que pudesse tirava-a dali. E tirei aos cinco para uma escola pública, que nunca tiveram festinhas do dia do pai ou do dia da mãe. Como é que educadores fazem isto às crianças? Como? Fazendo-as sentir diferentes? Como podem estas pessoas educar os nossos filhos? Não explicando às crianças que é normal haver pais separados, que é normal haver famílias mono parentais, que o pai ou mãe estão a trabalhar e que não podem sempre aparecer nas festinhas? E porque haver estas festinhas? Cada um celebra da forma como pode e como quiser!
Enfim continuando…
Quando o pai da minha filha diz que vem para o dia do Pai, eu respiro de alívio, porque não quero que ela sofra. Com o tempo ela mesma vai criando as suas defesas, com as minhas explicações e conversas de “há crianças que não têm uma família e blablablá”, mas pondo-me na cabeça da minha filha who cares? Eu penso que ela pensa e sinta, mas não diga “eu quero é o meu pai aqui comigo”, e tem a razão, é um direito que ela tem, o de ter o pai dela, junto dela.
O pai que foi um mau marido, mas que se a esforça para não desiludir a nossa filha. E sei que com estas acções, no que depender dele, não deixará que ninguém lhe faça mal. O meu medo foi superado pelas suas ações. E só tenho que lhe agradecer do fundo do meu coração por isso. Por saber que tentará sempre estar presente, mesmo estando a quilómetros de distância.
Se eu superei a ausência do meu pai? Estaria a mentir se dissesse que sim, mentiria se vos dissesse que não penso nele às vezes. Sim penso nele, ironicamente sou muito parecida fisicamente com ele, estamos ligados apenas nesse sentido.
O meu pai é o homem que está casado com a minha mãe há uns 20 anos, sustentou-me, deu-me estudos e ajudou-me a reerguer após o divórcio. Este meu santo padrasto nunca me julgou, esteve sempre lá quando precisei e é o melhor avô que a minha filha podia ter. Fica doente só de pensar que a netinha do coração dele está doente. Ia busca-la à creche quando tinha seis meses, fazendo sempre questão de estar presente desde o dia que minha filha nasceu. Nunca lhe pedi dinheiro, nada e ele oferece tudo sem qualquer sentimento de querer algo em troca. Este é o meu pai, o que me levou ao altar e que um dia chorarei aquando de sua morte. Do outro apenas nos une o sangue e a incrível parecença física. Se um dia tive dúvidas de quem era o meu pai, esse dia foi-me revelado quando lhe apresentei a sua neta e lhe foi indiferente. Nesse dia o meu pai deixou de ser meu pai para ser o ser que contribui para me pôr no mundo.
Pai é que o dá amor, quem ama incondicionalmente, quem se esforça para estar, quem nunca julga, quem perdoa. Pai é quem cria! 

Um brinde a todos os bons Pais, aos que se esforçam para que os seus filhos sejam felizes.

Não é carne nem o sangue,
é o coração que nos faz Pais e Filhos!


quinta-feira, 15 de março de 2018

O mundo maravilhoso do IT

Todos nós algures na vida já pensámos bater num ou outro informático.
O informático é aquele tipo que tem o poder de fazer feliz ou infeliz, ou os dois ao mesmo tempo. O tipo que nutres uma espécie de amor-ódio.
Não podes viver com ele, mas não podes viver sem ele.

Quem nunca apeteceu pontapear, admito pontapear é coisa minha, um IT (information technology) quando:

Situação 1

Tens um problema no computador, já fizeste de tudo o que tinhas a fazer, ligaste, desligaste, fazes um ‘restart’, ligas à rede, ligas o wi-fi e mesmo assim não funciona. Num acto de desespero telefonas para o IT e dizes:
- Desculpa telefonar, mas o meu computador não está a funcionar
- Já experimentaste reiniciar o computador?

Foda-se, desculpem-me a expressão, mas foda-se! Não amigo, eu nem equacionei todas as hipóteses antes de te ligar, eu resolvi ligar-te só para me certificar que não estás numa ilha paradisíaca qualquer em que o teu principal gozo é brincares remotamente com o meu computador.

Situação 2

- Olha, o cliente diz  que o e-mail “voltou para trás”, podes ver o que se passa?
- Já verificaste se ele está com problemas no email?
- Sim, ainda agora recebi um e-mail dele anterior a este
-Tem anexo?
- Sim
- Então, sabes se o anexo está cadastrado?

Foda-se! “Sabes se o anexo está cadastrado?”, não, eu sabia lá que os anexos do “outro lado” tinham que ser cadastrados. Eu só quero receber o anexo, ok? O que é isso de anexo cadastrado? E porque é que eu tenho que saber isso? Onde está isso escrito? Imagino a conversa para o “outro lado”:
- Olha o nosso IT diz que o teu e-mail não passou porque o anexo não está cadastrado
- #$%&$&, ok, eu vou dizer ao meu IT isso mesmo e eles que falem.

Situação 3 (quase igual a anterior)

- Olá, podem ver o que se passa com este e-mail que não conseguimos enviar desde ontem? Obrigada.
- Conforme verificado, os e-mails acabaram por ser entregues. No entanto iremos verificar o atraso.

“No entanto iremos verificar o atraso”, na minha cabeça soa como um “ah e tal, o meu período atrasou-se um dia e terei que fazer o teste para ver se estou grávida ou não”, ou se apenas foi uma pequena anomalia que durou: 24 horas.


Situação 4
- Desculpa novamente incomodar, mas a impressora não está a imprimir e/ou as letras a cores estão esbatidas, se calhar o tonner acabou!
- Hummm qual é a cor que está esbatida?
- Laranja? (Com um ar incrédulo, mas que o IT não vê porque estamos ao telefone)
- Ah, então o tonner acabou, vou aí acima trocar.
Hmmm? Não foi o que eu disse na primeira frase, mas atira com um “qual é a cor” para constatar o óbvio! Outra vez na minha cabeça vais ao médico e dizes “dói-me o ouvido esquerdo e estou constipada, penso que seja otite…”. O médico disserta sobre o estar constipado e canais entupidos, quando com a sua luzinha olhando para o meu ouvido diz: “É uma otite!”.

Podia até falar de uma vez em que me enviaram o número do IP! Sim do IP, para quê? Para que é que eu quero o número do IP? Para colecionar números? Não percebo, a sério que não.

Quando resolvem o problema assumem aquele ar de Super-Homem e que na realidade e aos olhos do comum mortal são mesmo o Super-Homem, porque tu não fazes ideia, puto, nada, niente como resolver a questão e precisas dele para trabalhar, na verdade quase que imploras para que te resolva o problema num curto espaço de tempo. Pedes com muito jeitinho para não ofender. Eles sim são os patrões, se o informático diz: “Não podes enviar este e-mail”, tu até podes escabelarte toda, mas no fundo eles sabem que eles é que vão ficar por cima. No fundo
todos nós tememos esta classe. Imagina que embirram connosco e todos os dias chegas ao teu local de trabalho e o teu computador está bloqueado, o teu e-mail não funciona, o telefone não dá... Imaginem esta tortura, quase que hiperventilo só de pensar.

Claro que se fizermos o exercício de nos colocarmos no lugar de um:

Desculpa ligar-te, mas o meu computador tem o écran virado ao contrário.
Desculpa ligar-te, mas ao escrever o texto os parágrafos estão todos “fora do sítio”.
Desculpa, mas tu não és informático? Em, mas não devias saber isto? O isto é uma outra situação que envolve fios, televisões, acertar o relógio do microondas, mudar lâmpadas, etc.
Desculpa, mas podes “mexer” no meu computador? Confesso se eu ouvisse “podes mexer no meu...” deixaria de ouvir o que quer que fosse partir daqui...

Sabem, eu às vezes penso no que faria se tivesse qualquer tipo de poder e depois penso, “ah, já sei porque não tenho poder…”. Não tenho maturidade suficiente para ter poder. Ninguém tem e por isso se cometem as barbaridades que se cometem no mundo.
E se eu fosse uma IT, não conseguiria que de vez em quando só por diversão desligar um ou outro programa a alguém, vezes sem conta.
Eu, claro.


quinta-feira, 8 de março de 2018

Be U num mundo maioritariamente masculino!

O dia da Mulher é hoje, não vou dissertar sobre a importância desse dia, relembro apenas que a ideia de criar o Dia da Mulher surgiu no final do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito de voto.
É graças à coragem de muitas mulheres daquela altura que hoje, posso escrever livremente e tenho um trabalho numa sociedade que infelizmente ainda é tendenciosamente masculina. Situação que está a mudar muito, mas muito lentamente.
Para vos situar, não querendo entrar em muitos detalhes, aqui a Queen trabalha num mundo de transportes muito vasto. E ao contrário do que possam pensar é um mundo maioritariamente masculino. Ocasionalmente lá tenho uns meetings comercias e que para variar o sexo feminino é muito reduzido, quando digo reduzido, quero dizer que numa reunião de comerciais de cinco pessoas uma é mulher, normalmente sou eu. 
Há sempre aquela questão de primeiro sou mulher, segundo sou preta (facto que antes causava sensação, mas que agora com o hábito é engraçado de gerir) terceiro sou bastante feminina ou gosto de imaginar que sou. Esta semana tive que me deslocar a Barcelona para um meeting anual no qual várias agências da Europa e do Norte de África se junta para uma espécie de conclave, um dia trancados com apresentações exaustivas com problemas e soluções.

A Viagem:
Apanharia o avião à tarde para que na própria noite ter um jantar com um grupo de pessoas que no fundo são mesmos colegas, mas não tento. Ora aqui a "je" sempre muito preocupada com a sua indumentária pergunta às suas queridissimas colegas opinião sobre o que levar na viagem, prevendo que chegaria em cima do jantar e que não teria tempo de ir ao hotel refrescar-se e mudar de roupa. Opinião geral é que deveria ir de fato, ou de calças de fato. Discordei prontamente, aliás nem sei porque pergunto, uma vez que já sei lá no fundo o que quero. Discordei porque não gosta assim tanto de calças e para reuniões ou jantares não acho apropriado. Passo a explicar, se há alguns anos, na casa dos 20, eu achava que para ser respeitada profissionalmente tinha que usar fato, calça e casaco, achava profissional e sensual, agora acho que não o devo fazer. Opinião minha claro, o mundo é livre de pensar o que quiser. Eu acho muito sexy o fato, mas um tanto ou quanto agressivo, acho mais interessante e apelativo usar um vestido sóbrio, e quando digo sóbrio não é tipo freira, ok?! É um vestido que me define, não sendo demasiado decotado nem demasiado curto. É usares um salto alto se conseguires e se quiseres, usares uma maquilhagem, as minhas olheiras acentuados assim o exigem. Este visual que escolho é a minha assinatura, a minha marca. Não preciso de calças para ser respeitada, preciso sim de saber o que estou a dizer, de ser determinada e assertiva no que digo. E ter um tremendo bom gosto e de sobriedade de um "ar clean", é o que eu gosto. E tenho a certeza de quando me apresento sei que faz toda a diferença e falando meio a sério meio a brincar, não tenho que aniquilar a minha feminilidade só porque estou num mundo de machos, não quero. Mais um bocadinho e também sou um deles. Eu não sou um deles, eu sou mulher e gosto de o ser. Feminismos à parte, com o passar dos anos acho isso irrelevante para os homens. No fundo todos nós gostamos que as pessoas estejam apresentáveis, lavadinhas e cheirosinhas.
Claro que optei por um vestido prático para a viagem, mas que desse, em caso de necessidade, usar no jantar. O que acabou por acontecer, o voo atrasou-se e cheguei em cima do jantar. No avião saquei do estojo da maquilhagem e ali mesmo, qual habilidade qual que, tapei as ditas olheiras, uma coisita simples e lá fui eu para o jantar. Um jantar normal numa pizzaria normal. Porque pizzaria? Bem, porque o Manager deste evento é italiano, siciliano e gosta que as pessoas conheçam as iguarias da sua terra. Já comi melhores, mas pronto façamos o favor,pensamento estamos em Barcelona, Espanha, por amor de Be U, tanta coisa para comer.... Enfim não sejamos mal educadas. A morrer de sono, porque é uma segunda-feira e já são meia-noite, tenho de me levantar cedo para o conclave, conto os minutos para a minha almofada. Acho que estamos todos a pensar no mesmo, porque no fim é debandada, cada um para o seu o hotel. Mais uma vez penso "ainda bem que não há cá confraternizações no mesmo hotel e coisas", já somos pessoas entre os 30’s, 40’s e 50’s. 
Depois de umas horas de sono, começa o ritual do tomar banho, vestir outro vestido, este já mais "fino, elegante, sexy,  mas não muito" e a "tapagem" das olheiras.
Lá vamos nós, aqui vamos para a segunda parte do texto.

O conclave:
Às nove da manhã em ponto lá estamos todos à porta da "oficina" do qual uns tiveram que recorrer de um táxi e outros como eu de um GPS a pé… Óbvio que saltos altos são mentira, mas o vestido e o ar clean lá estão.
Entramos para a sala e constato o que constato sempre, em  30  ‘business person’ apenas cinco são mulheres, cinco… E apenas eu estou de vestido ‘who cares’.
O Top Manager começa o seu discurso todo pimpão a agradecer a todos pela deslocação, salientado que estamos ali para trocar ideias e apresentar serviços novos e blá blá… Começo a divagar. O Homem é um verdadeiro Italian, na casa dos 50, mas este é daqueles que nunca diz a idade, Uma Prima Dona, muito alto, com o sua gola alta e blaser, todo chique, cara limpa e luzidia, penso que tem um pouquinho de base, mas não tenho provas... Não se enganem, este homem por detrás daquela aparência extremamente cuidada é uma pessoa inteligente, o que se notou a cada apresentação, cada intervenção sua era acutilante, perpicaz e directa.
Às 09:30 em ponto começam as apresentações, 30 minutos depois eu já estava com aquele ar de tirem-me daqui pah… Nestes 30 minutos, duas apresentações, uau, a este ritmo estamos despachados cedinho… Nop… Começo aperceber-me que há apresentações cócos e ligeiramente começo a suar ao pensar “que bosta de slides tens tu”, para depois me aperceber que também há apresentações muito cocós e penso “a tua está um espectáculo, go for it!”.
Pessoas fofinhas do meu coração, Power Points com fundo branco não resulta., Power Points com quadros em excel de tamanho mínimos não resultam, e Power Points com textos infindáveis que parecem páginas de livros também não resultam… Really?
Enquanto luto desesperadamente para não abrir a boca, vou reparando obviamente em detalhes dos meus colegas muitos deles Managers, que eu não sou, e penso “estes ‘gajos’ gastam mais dinheiro em sapatos do que eu em vestidos…”, é um facto.Os colegas italianos e os tunisinos impecavelmente com os seus fatinhos e sapatos de top de gama, e aqui penso que não sou muito normal a reparar nestas coisas. Penso, “um fatinho desses e quando te levantas nem sequer apertas um botão do casaco”, regra básica meus amigos, a esmagadora maioria dos senhores esqueceu-se deste facto importante, mas não o Top Manager, esse não se esquece dessas coisas. Apresentações de costas para a plateia, apresentações muito baixinho e apresentações que estavam a dar tudo. Houve um que parecia ter uma batata quente na boca, outro que despejaram a apresentação como uma correria tal que não percebi nada, cada um com o seu sotaque, ora francês, tunisino ou espanhol… O inglês é realmente uma benção. Claro que temos um comandante que sabe tudo de tudo e do negócio todo, quando abre a boca para fazer uma pergunta sobre um ou outro assunto qualquer, é incontestavelmente direto e se percebe que estás a engonhar dá uma estoicada forte e arruma logo com a apresentação, coitado, mas não se diz “I dont know” diz-se “I will check and revert to you by e-mail with the information”.
Às 1230 e a apresentação nem vê-la, eu estou com fome e só penso, “porra nunca mais vou sair daqui”. Às 13:30 lá aparece o almoço, italiano outra vez, desta vez iguarias típicas que não pizza, tipo almôndegas cheias de tomate e eu só penso “caramba, lá se vai a minha alimentação saudável”.Conversinhas para aqui, conversinhas para ali, risadas,e blá blá blá. E pronto, apresentações oura vez, somos os primeiros, o meu chefe  começa a falar e rezo para que não dê uma “calinada”. Olho para o comandante e penso “a mim não me apanha, eu tenho na minha cabeça as respostas todas seu tonhó”,mas não fez perguntas. Quem me conhece sabe que ao contrário da escrita, oralmente sou bastante trapalhona e nervosa, o chamado pavor de discursar para plateias.Adoro conversar informalmente e ali nas conversas entre cafés é que mostro o que sei, já passou já passou...
Um dia trancada numa espécie de bunker para depois apanhar o avião de volta para a minha Lisboa...

Adoro ser mulher, adoro o meu trabalho, se às vezes sou "posta para trás" por ser mulher, sou, se tenho frustrações por às vezes não conseguir determinado patamar, isso todos temos, não vou fazer disso um melodrama, vou encaixar de cabeça erguida e vou tentar sempre fazer o meu melhor, resmungando, vociferando, desbravando caminhos, dia após dia.
Vou lutar sempre para que acima de tudo seja respeitada como ser humano, uma mulher trabalhadora com classe, com a esperança infinita de que a minha filha tenha o caminho mais facilitado quando chegar a vez dela.







quinta-feira, 1 de março de 2018

Life at office e os novos colegas!

Sabem quando estavam na escola e de vez em quando lá aparecia colega novo a meio do ano lectivo?  A novidade, a excitação, a especulação e tudo isso? Pensaríamos nós que aquilo só se passaria naquele espaço temporal. Pois enganamo-nos redondamente! Tudo é igual com a excepção que o anúncio é para o mailing geral da empresa, onde está descrito quase todo o ‘curriculum’ e vem com  a fotografia, estão a ver onde vai dar não é! 
Caríssimos seguidoras e seguidores, se é coisa que acontece é que pode  estar  tudo ocupado, mas há e existirá sempre tempo para cuscar e tirar ilações apenas de uma única foto, repito uma única foto, foto tipo passe, a preto e branco.
Se for do sexo feminino, eu  ainda não vi o e-mail e já estou a ouvir “Eh la, oh Jaquim já viste aí a nova aquisição, isto sim”... Passa o responsável da dita pessoa e “Eh lá agora estiveste bem, isto é mesmo assim ou é photoshop?” ou então “Vamos lá ver se a cara corresponde ao corpo?”. Também pode acontecer como se ouviu no ano passado quando o e-mail “caiu” e viram que era preta: “Então vais deixar ser única, já não és especial…” WTF! É “bué” especial ser a única preta na empresa! Not. Depois ouvimos em “mode” sussurro “ Eh pah as outras vão-se roer de inveja”. É incrível a percepcão errada que a maioria dos homens tem de nós mulheres, acham sempre que vamos entrar em disputa. Nós não entramos em disputa por este tipo de pormenores, entramos sim, porque fomos à casa de banho e a cabra além de não ter descarregado a sanita não disse bom dia. 
Se for do sector masculino o barulho é maior se for agradável à vista, começa-se logo a fazer um raking ou até mesmo um best of. Eu sou a primeira a tirar as observações à queima roupa, tipo ui cabeça grande, ui olhos pequenos, ui será que tem mãos grandes, será que quando abrir a boca tem os dentinhos todos? Parece um mafioso, parece pequeno… Magro demais… Cara de assassino… Enfim, quando liberto a minha imaginação é um conjunto de parvoíces que me saem pela boca, só me apercebendo quando olho para a minha colega da frente e ela está com aquele olhar incrédulo…  Às vezes parece que eu é que sou a miúda e ela a cota. O macho alfa habituado a ser o rei da corte incomodado com tanto alarido diz “vendidas pá!”
Normalmente estes anúncios da empresa são à sexta-feira o que significa que na segunda-feira seguinte, o colega já estará instalado. 
Tudo isto tem um ritual: logo pela manhã os responsáveis fazem a ronda pelo escritório para apresentar o colega e aí sim, consegue-se tirar a radiografia numa milésima de segundos… É incrível, passas por um edifício anos e anos e nunca reparaste no detalhe da janela, mas nestas coisas eu até reparo nos sapatos, se estão ou não demasiado engraxados, porque eu tenho uma teoria em relação a isto, fica para mais tarde. Há aqueles que correspondem às expectativas, mas 90 por cento dos casos é FLOP... Ou seja, na parte do feminino as fotografias dos 'curriculum’ são de quando tinham uns 20 anitos, de quando começaram a enviar CV’s, em tenra idade, muito frescas e fofinhas… Fofinhas são! Não vou comentar mais se não amanhã quando chegar fazem-me uma espera na casa de banho… Adoro-vos, pelo menos 80% de vós. 
No sector masculino, normalmente as minhas ilações são as mais acertadas, cabeça grande, magrinho, cara de assassino, etc. Posso dizer que em 10 que entraram o ano passado só um correspondia às expectativas...Digamos que depois do macho alfa é a nossa coqueluche (minha)depende sempre da faixa etária...Cheira bem, veste-se bem, soa bem… Esquece-se sempre das moedas na máquina do café... Ohhh bebi um café de graça.

Bem, depois é esperar pelos grandes eventos da empresa e aí sim ver de que argamassa são todos feitos, sempre uma aventura.