Tenho andado a correr com a minha mãe, então tenho
corrido com aquele à vontade de não me esforçar muito. Apenas para lhe
acompanhar. Porém, já há algum tempo que tenho vontade de voltar a correr a sério.
O que implica sofrer sozinha, mas só a sofrer eu consigo evoluir. Se não sair
da minha zona de conforto nunca atingirei os meus obejctivos. Já fiz 10 km a 59
minutos quase a vomitar, mas consegui… Esta marca não é passada há 2 anos. Acho
que chegou a hora de parar com os mimimis e voltar a dar o meu melhor.
Claro que me sinto pesada, com excesso de peso e muitas
vezes desmotivada. De há dois meses para cá tenho treinado e sofrido muito nas
minhas horas de almoço de tal maneira que me obriguei a inscrever e voltar a
correr. Ás segundas e quartas tenho umas aulas muito, muito duras, aulas de 30
minutos em que o esforço é levado ao extremo, mas que têm ajudado a recuperar a
forma física, a manter-me activa, com mais energia e cada vez mais com vontade
de melhorar.
Vou descrever o HIIT ZONE:
“HIIT ZONE é uma
sessão de cardio composta por períodos rápidos de treino bastante forte. A
ideia principal do treino de alta-intensidade passa por disparar a intensidade
do seu cardio. De modo a qualificar-se como um verdadeiro treino HIIT terá de
puxar por si até ao seu máximo durante cada período. É por isso que cada
período de treino dura entre os 20 a 90 segundos. Precisamente o oposto de ir
fazer uma corrida de longa duração com o objectivo de aumentar o periodo em
actividade.”
Por
palavras minhas, a cada três minutos morres na passadeira e depois voltas a morres no
chão com burpees, flexões e outras coisas
dolerosas. Em cada 3 minutos morres em cada
bloco até fazer os 30 minutos. Houve uma aula, não há muito tempo, depois ter ter corrido a nível 10 com elevação a 4, fui para o chão e quando levantei a
plataforma por cima da minha cabeça quase que ia vomitando.
Acho que a partir desse
momento pensei, “se eu
consigo fazer isto, consigo encarar os 10
km de frente”. No
fundo é isso, encarar as tuas limitações de
frente e tentar fazer melhor. Não vou com grande vontade para estas aulas,
é verdade, mas quando saio de lá, sei que fui ao limite, o
que me permite também não endoidecer num mundo
de loucos que é o meu trabalho. Que me permite não mandar todos para o “c...”, o que me permite sobreviver a aturar pessoas e também lidar
com as as minhas frustações, que são umas quantas tal
como o comum mortal.
Há dias que adoro o que
faço e suporto tudo, há outros dias que só o gostar não chega. A falta de
consideração, a falta de ética, a falta de “sermos uns pelos outros”. Chamem-me
menina, mas num
mundo onde se dá importância à cor ou à gaguez de Joacine Katar, em que se discute a eterna questão de Portugal ser ou
não ser racista. Eh pah, cresçam, não há ninguém que não tenha os seus preconceitos, ninguém. Seja de que
cor fôr. Enfim, senão fossem essas aulas à
hora do almoço não conseguiria suportar piadinhas sobre gajas, sobre gays,
sobre cores, sobre André Venturas, homens de saias e outros temas que despertam o
cócó que há nas pessoas.
Voltando aos meus 10 km e à
corrida do Montepio. Lá fiz a prova, não muito a sofrer como sofro nas aulas, mas com muito custo. Tentei
não olhar para o relógio, porque ao contrário de muitas pessoas, olhar para o
relógio ou ouvir a quantos quilómetros vou, não me ajuda em nada. Apenas deixei
as pernas rolar. Claro que depois dos 6 km a
moral começou a ficar lá para trás e o ritmo foi baixando. Mais a moral, uma
vez que as pernas continuavam... Perdi a
respiração já ao quilómetro sete , mas continuei... No último quilómetro tentei dar o
litro e um rapaz da minha idade (42 anos) ao
reparar na minha passada resolveu levar-me com ele... E fomos juntos até ao final. Ia no início da Rua do Ouro e começei a sentir dor de barriga, dor nas
costas, dor no peito e disse “vá!". Ele
disse "não", corremos juntos
e ainda tive alento de acelarar o passo, não fossem as dores parar-me. Só quem corre percebe. Quando
cheguei à meta agradeci-lhe ao qual ele me responde “ora essa, vinha aflito dos
joelhos e quase a parar quando a vi, o lema é
corrermos uns pelos outros”. Fiquei emocionada e lembrei-me porque corro. Corro
porque encontramos sempre alguém que nos dá alento mesmo estando a sofrer, eu
própria faço isso ao acompanhar alguém. Não foram os meus 59 minutos, fiz
mais 9 minutos, 1 hora e 8 minutos… Fiquei
satisfeita, não vomitei e sei que consigo lá chegar.
O meu orgulho chegou 10 minutos depois. Tem 66 anos e serve de exemplo para
quem vem ao lado dela. É a senhora minha mãe.
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