quinta-feira, 9 de abril de 2020

Be U em tempos de Covid- Parte IV

Hoje dia 9 de abril e faço um mês em casa.

Para aqueles que não se lembram, um dos primeiros casos foi na escola da B: uma professora que tinha sintomas esteva a dar aulas e devido ao possível contágio tive de ir mais cedo para casa, eu, a B, os colegas, os professores de todo o agrupamento.

 E só me ocorre, que merda! Sim, que merda. É um desabafo, claro!

Aspetos positivos, aqueles que tinham problemas porque trabalham e muitas vezes não tinham tempo de qualidade para com os seus filhos, agora chegou aquele momento em que vemos tudo, estando, sempre presentes.
Negativos, o estarmos sempre presentes, torna-se uma relação desgastante, obviamente. Dou com a miúda a olhar para mim de lado quando a repreendo ou quando lhe digo para fazer a cama.

Positivos, posso ver todas as atividades da miúda.
Negativos, tenho de ver todas as atividades da miúda enquanto eu trabalho, que ginástica mental.

Depois há o macho cá em casa que faz perguntas após ter cozido o esparguete “o que queres que faça com o esparguete agora?". Obviamente o pensamento é "mete-o num sítio que eu cá sei". Não sai um som porque não me ocorre nada positivo. Então é só silêncio. Aquele silêncio ensurdecedor. Coitado, às vezes sinto pena. Porque vê-se genuinamente na cara dele que não sabe o que fazer. Enfim.

Continuo a cumprir os meus horários espartanamente, portanto os dias são quase todos iguais. Não vou muito às redes sociais, porque...por favor que acabe o Covid depressa, porque as pessoas perderam a noção e METEM TUDO na internet, já viram quantos famosos andam pelo TikTok? Parece que o seu cérebro foi sugado e só pensam em TikToks.
E aquelas pessoas que fazem pão, bolos, e viraram grandes chefes de culinária, fico tão cansada pá!
No final do dia depois do expediente, lá estou eu aos saltos ou com uma mochila cheia de peso, a ouvir e a fazer o Bruno Salgueiro, de vez em quando acompanhada pela mini me ou pelos olhares de soslaio do macho. Acho que está a pensar, “sim, enquanto fazes isso, não levo com os teus olhares de psicopata...”.

A gata lá se habituou à nossa presença e se ela já mandava, agora sinto que sou sua escrava, mia-me porque quer ir à janela ou porque quer os biscoitos dela ou simplesmente quer beber água da torneira. Oiço mais sons dela a dar-me ordens neste mês do que em quase dois anos cá em casa. 

De vez em quando paro para pensar e a minha mente vai para aquela pergunta de “o que vais fazer quando saires da quarentena?”.
Para além das coisas simples, ir beber um café à rua, ir correr e sentar-me na praia só apanhar sol enquanto um gelado se derrete na minha mão e depois disto tudo, ocorre-me que quero ir ao médico ou a vários médicos:
Ao indivíduo dos dentes.
Ao indivíduo do pipi.
Ao indivíduo das hormonas.
Ao indivíduo dos olhos.
E com isto, não quero dizer que estou mesmo a precisar de ir por motivos de saúde ou porque estou a morrer. Apenas convém ir aos indivíduos que muitas vezes negligencio, porque não suporto, os primeiros dois abomino, mas lá terá de ser, e o que tem de ser, tem muita força, já dizia a música.
Só tenho pena de não poder escolher um dia e fazer isto tudo num dia para despachar logo tudo de uma só vez.
Depois ou em primeirissimo lugar tenho de ir ao cabeleireiro tratar dos brancos. Tenho tentado pintar em casa, mas nem vos conto.

E como vai a vossa saúde mental?
Contem-me tudo.

P.S. Acreditemos que vai correr tudo bem!
   
"It's just a moment, this time will pass"